Samba leva caos para a Bienal
Encontro entre escritores e público é prejudicado pelo som alto do Samba Recife. Coincidência também congestionou o acesso
Ingrid Melo
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
A coincidência do Samba Recife com a 8ª Bienal do Internacional do Livro de Pernambuco e o domingo de diversão no parque Mirabilândia foi caótica. Primeiro para o trânsito, que há três quadras do Centro de Convenções de Pernambuco já estava parado. Para a maior parte do público, a solução era descer do transporte (se não particular) e seguir a pé. Caso o carro fosse próprio, começava mais uma etapa: encontrar estacionamento.
"Eu vim aproveitar a Bienal com minha família, trouxe esposa e filhos, é complicado passar por esse estresse. Optei por vir no final da tarde, achando que o movimento não seria tão intenso, mas esqueci que tinha o samba na área externa. Mesmo as entradas sendo diferentes, é um transtorno. Chega a ser absurdo ficar meia hora esperando para chegar no local e pelo menos mais uns vinte minutos para estacionar. As crianças não têm paciência para esperar e eu acabo perdendo também a minha", contou o professor Isaías Lima.
Pelo menos, Isaías estava no grupo que não precisava pagar para entrar no Bienal do Livro. Pela primeira vez, este ano é cobrado ingresso. A inteira custa R$ 4, a meia R$ 2. Professores, porém, têm a opção de se cadastrar e entrar gratuitamente. A inscrição é feita na própria bilheteria do evento.
O mesmo benefício não foi concedido para Igor Galindo, que foi auxiliar o vizinho portador de deficiência visual, Jorge Feitosa, nas compras dos livros. Feitosa possui carteira que garante que tanto ele quanto seu acompanhante entrem gratuitamente em eventos promovidos pelo governo do Estado. "Tentamos argumentar, mas não foi possível acordo. A moça na bilheteria disse que apenas Jorge poderia entrar gratuitamente. Para evitar confusão, eu paguei. É barato, não vale a pena discutir", contou Galindo.
Segundo a namorada de Galindo, Janayna Vasconcelos, a solução não é assim tão simples. "Eu não me importaria de pagar pra entrar se houvesse melhoras, mas instituiu-se uma entrada e a estrutura continua a mesma. Os corredores continuam estreitos, o calor continua insuportável, o barulho que vem do Samba Recife incomoda. Não entendo para que vai ser utilizado meu dinheiro", argumenta.
De fato, havia problemas de organização. Uma bola de sorvete caiu em frente a uma loja na Travessa Luiz Gonzaga e, meia hora depois, um dos funcionários da livraria ainda estava orientando as pessoas a desviarem da sujeira, enquanto esperava chegar alguém que pudesse limpá-la. De acordo com Feitosa, sujeira no chão é apenas um de seus problemas. "O piso é desigual, os corredores são estreitos e não há quase nenhuma opção de livros destinados a deficientes visuais. Até agora achei apenas um, na Livraria Saraiva, mas era caríssimo", conta.
Para quem podia enxergar, a Bienal parecia um circo. Com o objetivo de chamar atenção dos clientes, tentava-se de tudo. Desde vestir-se de palhaço, como as atendentes da Editora Ática, até fazer números de mágica, como os funcionários da Top Livros. A branca de neve na Sala dos Professores foi a alegria da pequena Camila, de quatro anos. "Quero visitar outras lojas, mas ela não quer sair daqui. Achei muito bacana essa iniciativa de tentar distrair as crianças. Os melhores contos de fada estão mesmo nos livros. Fico feliz que Camila esteja tendo essa experiência aqui na Bienal, rodeada por milhares deles", contou a mãe da menina, a publicitária Gabriela Araújo.