Pular para o conteúdo principal

Pintor fala da publicação dos seus diários e das mudanças na Oficina Brennand



Certa vez, a Oficina Brennand recebeu a visita da velha senhora. Ela era a acompanhante de uma moça que parou para comprar uma peça “rapidinho” e seguir estrada. Sem paciência com criações artísticas, decidiu aguardar no carro. Esperou, esperou e nada da amiga. Irritada, foi descobrir a razão da demora. Deve se arrepender até hoje. A velha senhora deu de cara com esculturas e imagens – imóveis, mas não inertes – espalhadas por toda parte. “Seres” à solta em seu habitat natural. “É uma carnificina”, horrorizou-se. Francisco Brennand, 84 anos, não esconde o prazer em lembrar a história: “Eu chamo de A visita da velha senhora, como naquela peça de Friedrich Dürrenmatt”.
Mal imagina, mas a velha senhora foi uma excelente crítica de arte. “Foi uma das melhores que já recebi. São essas críticas que me interessam, porque dizem algo diferente. Vou dizer o que sobre o trabalho de outro pintor, que ele já não saiba? A velha senhora viu criações que evocavam um horror ‘conradiano’, viu o horror do parto”, lembra o pintor. Numa exposição dos anos 1970, Brennand recorda outra crítica, durante rara exposição numa galeria em São Paulo. Uma garotinha, após olhar com atenção todas as peças dispostas na sala, solta um beijo para a sua recriação de Palas Atena, a deusa grega da guerra. Do gesto (e do comentário ali contido), jamais esquece.
Em princípio dos anos 1980, quando a Oficina Brennand ainda não era um dos pontos turísticos mais disputados da Região Metropolitana do Recife, sua obra foi merecedora de uma crítica definidora dos anos que viriam pela frente. “Durante 10 anos, ergui isso aqui sozinho. Ninguém vinha até aqui”.
Como um Crusoé da Várzea, um dia se surpreendeu com um ônibus cheio de turistas, curiosos em entender o que era aquele “templo”, com aquelas construções plantadas no meio do nada. Na despedida, o motorista chegou para o pintor e disse que acharia que os turistas gostariam de visitar aquele lugar que “parecia o Egito”.
Parecer o Egito era o certificado que Brennand havia transformado a antiga olaria da família em algo de difícil equivalência, misterioso, um outro planeta... “A gente ainda não entende o Egito, por mais que os historiadores estudem, por mais que livros sejam escritos, por mais que a linguagem seja decifrada”.
Brennand sabe que os egípcios “inventaram” o olho humano, ao criar padrões de beleza e ao definir limites estéticos. Junto à beleza, inventaram uma arte que se erguia aos céus em busca de alguma coisa – algum deus, talvez outros homens, alguma lembrança... 
No dia dos mortos de 1971, Brennand começou a erguer seu Egito pessoal, seu planeta, uma civilização à imagem e semelhança de um punhado de lembranças. “Não esqueço a data, porque o dia dos mortos a gente jamais esquece”.
fonte: JC

Postagens mais visitadas deste blog

Conheça obras do artista espanhol Pablo Picasso

Picasso - Retrato de marie-thérèse walter 1937 (Foto: © Succession Pablo Picasso / Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013) Pablo Picasso nasceu em Málaga, na Espanha, em 25 de outubro de 1981. Reconhecido como um dos mestres da arte do século XX, ele foi pintor, escultor e desenhista, além de também ter se desenvolvido na poesia. Considerado um dos artistas mais famosos e versáteis do mundo, tendo criado milhares de trabalhos com todos os tipos de materiais, Picasso também é conhecido como o co-fundador do Cubismo. A primeira obra de Picasso foi pintada aos oito anos de idade e era um óleo sobre madeira, chamada de O Toureiro. O trabalho foi conservado por toda a sua vida e sempre que se mudava, a obra ia com o artista. Picasso - Mujer con boina y vestido de cuadros 1937 Aos 16 anos ele se mudou para Madrid, onde se inscreveu na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando. Em Barcelona conheceu os modernistas e, anos depois, abriu a sua primeira exposição. No mesmo ano ...

O famoso quadro da Independência do Brasil

Pedro Américo se ofereceu para fazer a obra, 66 anos após o grito, e ganhou uma boa quantia pela encomenda: 30 contos de réis - como comparação, em 1888, o governo de São Paulo aplicou 22 contos de réis na área da saúde. Na época, muitos políticos achavam que não seria preciso pedir a alguém de fora para fazer o quadro (Américo já vivia na Itália), mas, como tinha amigos influentes, ele conseguiu a indicação. Assim que soube que faria a tela, ele veio ao Brasil e fez uma pesquisa histórica intensa. "Ele recolheu todas as informações posssíveis e, com base no que descobriu, nos retratos, nas roupas, objetos de época, ele fez um arranjo da imaginação dele. Sob esse aspecto, a tela é muito criativa, e talvez esteja aí a grande razão pelo qual ela seja tão impactante ainda hoje. A imagem não tem um centro, o centro é um vazio, mas toda a composição está voltada para mostrar um episódio que ninguém viu." Foto disponibilizada no blog "Aleks Palitot Trilhando ...

Conheça o Circuito da Poesia no Recife

O projeto Consiste na instalação de doze Esculturas, em concreto e fibra de vidro com tamanho natural, representando personalidades conhecidas ambientadas em lugares estratégicos do centro da cidade formando um circuito, um percurso de visitação. Essas esculturas foram criadas pelo artista plástico Demétrio Albuquerque da Silva Filho. São elas: 01 - Manuel Bandeira - Rua da Aurora Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho  nasceu no Recife e estreou na literatura em 1917 com a publicação do livro A Cinza das Horas. A escultura apresenta Manuel Bandeira sentado, ao lado de uma janela colonial, onde contempla toda a paisagem do Capibaribe, na rua da Aurora. Lendo trecho de seu poema Evocação, o poeta convida o visitante a fazer o mesmo. O portal simboliza a passagem que a poesia de Bandeira representa para a literatura brasileira. 02 - João Cabral de Melo Neto - Rua da Aurora João Cabral de Melo  Neto nasceu no Recife e faleceu no Rio de Janeiro. Membro da Academia Brasi...