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Lorde da cultura brasileira


“Existe uma mulher aí chamada Lady Gaga. Foi a mulher que mais ganhou dinheiro em 2011. Se o nome dela fosse Lady Gaga mesmo, eu não ia reclamar, não era culpa dela. Mas uma mulher que se senta na mesa e escolhe o nome Lady Gaga é imbecil. Eu não conheço não e nem quero conhecer. Não sei se é contagioso. Depois lá estou eu aqui: lorde Gaga!”. Aos 84 anos, Ariano Suassuna está mais para matuto-palhaço-mestre da cultura brasileira do que para lorde Gaga. Ainda bem. Pelo menos é o que pensavam as pessoas que lotaram o Teatro Luiz Mendonça na última quarta-feira. Era a estreia da aula espetáculo Tributo a Capiba, mas durante 40 minutos, antes que as músicas começassem a ser apresentadas, Ariano discorreu sobre cultura, interior, povo português, política.


“Eu nunca nem saí do Brasil e sabia que não tinha bomba atômica no Iraque. Quanto mais o presidente dos Estados Unidos! Por acaso tinha petróleo lá!”. Ele tem opinião sobre tudo, é espirituoso, engraçado. Esquece até quanto tempo já passou. “Eu sou um palhaço frustrado. Quando eu era menino, eram dois encantos que eu tinha: a leitura e o circo. Isso há 30, 40, 50, 60, 70 (titubeando) anos atrás. De vez em quando eu me esqueço do tempo que passou! Quando eu via circo lá em Taperoá eu tinha menos de dez anos. Pois bem. Bastava dizer: o circo chegou, vocês não sabem a alegria que eu tinha. Inclusive porque foi no circo que eu vi as primeiras peças de teatro da minha vida. E eu era encantado com a figura do palhaço e ficava insuportável na semana depois que o circo passava porque eu ficava repetindo as coisas do palhaço”, relembra.



No seu Circo da Onça Malhada (uma homenagem, diz ele, ao povo brasileiro), formado por músicos e bailarinos, não entra guitarra. “Isso fica para Lady Gaga”. Se bem que, mestre Ariano, tudo depende do referencial. Para quem tem no grupo Arraial um músico chamado Jerimum de Olinda (percussão), não dá para reclamar muito de Lady Gaga! Pois bem, como diz ele, facetas menos conhecidas da música de Capiba foram apresentadas, por Antônio Madureira (violão), Eltony Nascimento (flauta), Sérgio Ferraz (violino), Sebastian Poch (violoncelo), Jerimum e pelos cantores Edinaldo Cosmo de Santana e Naara. Algumas músicas também foram dançadas - a coreografia é assinada por Maria Paula Costa Rêgo, que está em cena ao lado de Gilson Santana (Mestre Meia-Noite), Pedro Salustiano (filho de Mestre Salustiano, faz questão de lembrar Ariano), Jáflis Nascimento (esse é filho de Nascimento do Passo) e Ana Paula Santana.



Sobre Capiba, contou casos engraçados, lembrou do time do coração do amigo (embora tenha esquecido de contar que a única vez que brigou com o compositor foi justamente por causa de futebol). Mas, o mais importante, resgatou composições como a linda Cotovia, com letra de Manuel Bandeira, Sino, claro sino, letra de Carlos Pena Filho e Tributo a João Pernambuco. Próximo ano, a aula deve ser levada para o interior do estado. A noite toda, Ariano pediu para que se a plateia não aprovasse o que ele falava, mostrava, ficasse calada. Mas se gostasse, desse um sinal. Aqui está o nosso sinal, mestre-palhaço. 

fonte: Diário de Pernambuco

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