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Crítico do The Times elogia orquestra do CPM: “Melhor do que a Sinfônica de Londres”


Numa conversa à beira da piscina do Hotel Sete Colinas, onde fica a Sala de Imprensa do MIMO, o jornalista inglês Clive Davis conversou com Lu Araújo, Diretora Geral e Artística, e André Oliveira, Diretor Artístico, sobre a história do festival, as atrações em mente para os próximos anos e a indústria artístico-cultural brasileira. Mas a conversa se iniciou com uma observação espontânea do representante do The Times sobre o concerto que a Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música havia realizado na Igreja do Carmo em Olinda.
Ele comentou que, por causa das peças de compositores pernambucanos que constaram no programa, achara o concerto deste sábado mais interessante do que um da Sinfônica de Londres que ele vira recentemente. De fato, a interpretação da Eroica, que ocupou a primeira metade da apresentação de quase duas horas de duração, foi convincente e superou detalhes de afinação nas cordas agudas, sendo aplaudida de pé. Porém, a segunda metade tornou-se, acidentalmente, algo para inglês ver, literalmente e no melhor sentido.
O poema sinfônico Cangaço de vida e morte, do contrabaixista Paulo Arruda, abriu a sequência das quatro peças pós-Eroica e arrancou os melhores elogios do dia (não só de Clive Davis, mas gerais) pela carga dramática, estrutura e rica orquestração. Não à toa, a partitura foi uma das seis finalistas do Concurso Tinta Fresca 2012, promovido pela Filarmônica de Minas Gerais. Este ano, o compositor fez uma revisão para incrementar o uso de técnicas expandidas e acrescentou o argumento que embasa a peça.
O Concerto armorial para violino e orquestra [de cordas] de Sérgio Ferraz, que teve o próprio professor do CPM como solista, também mereceu menção do crítico inglês. Diferente da matriz mahleriana do Cangaço, o concerto tem um perfil familiar aos ouvintes pernambucanos, porém lança mão de uma estrutura minimalista com mais nitidez do que os armoriais dos anos 1970, especialmente no primeiro e terceiro movimentos (neste, o ostinato dos violoncelos e baixos toma um papel fundamental), afora a presença constante dos pedais em ré e lá, das passagens lentas em tom de aboio e das dançantes com célula rítmica de baião.
No Concerto sinfônico para Asa Branca, de Sivuca, cujo solista foi o também professor do CPM, Julinho (Júlio César), o destaque – além de sua sanfona confeccionada toda em madeira, incluindo as teclas cromáticas – foi para a cadência. Com a liberdade dada pelo compositor na partitura (não há uma indicação ou sugestão sequer para o solista), recorreu a harmonias mais arrojadas que as do próprio Sivuca em suas atuações quando vivo, incluindo acordes de sétima maior ou com quarta – algo que em nada desagradaria o músico paraibano, que tocara jazz por boa parte de sua carreira.
Por fim, a Rapsódia pernambucana de Clóvis Pereira juntou em seus cinco minutos de duração três das manifestações carnavalescas mais caras aos olindenses e recifenses: os caboclinhos, o maracatu nação e o frevo de pau e corda, que se transforma em frevo de rua no apoteótico desfecho da obra. Presente na primeira fila da plateia, Ademir Araújo, o maestro Formiga, acrescenta que o tema que lastreia a peça é de uma das composições mais conhecidas de Clóvis, Luizinho no frevo.
Por Carlos Eduardo Amaral

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