Música clássica: mulheres se destacam no calendário de 2019 no Brasil

A temporada clássica de 2019 tem presenças femininas num lugar ainda pouco desbravado por elas, o rol de compositores, uma grande despedida para uma maestrina e astros estrangeiros de renome. No Rio, a OSB preparou um concerto só com música escrita por mulheres, enquanto a Petrobras Sinfônica estreará uma obra para trombone e orquestra da compositora carioca Marisa Rezende. 

Em São Paulo, na Osesp, a nova-iorquina Marin Alsop, regente titular da orquestra desde 2012, deixará o posto em dezembro, com um espetáculo de proporções globais. E, por falar na americana, outros nomes estrangeiros que prometem grandes apresentações são o violinista Pinchas Zukerman e o maestro John Eliot Gardiner com a orquestra English Baroque Soloists. 


 Theatro da Paz (PA)
A temporada, que vai de março a dezembro, ainda está sendo organizada. Segundo o novo diretor do teatro, Daniel Araujo, serão quatro concertos líricos intercalados com quatro óperas. A primeira será "Suor Angelica", de Puccini, em maio. O drama sobre uma mulher de família nobre enviada a um convento após ter um filho ilegítimo tem elenco só com vozes femininas (as cantoras ainda estão em negociação). A temporada acabará com "Ahmal e os visitantes da noite", de Gian Carlo Menotti, que tem tema natalino e será apresentada em dezembro. Ambas serão dirigidas por Jena Vieira e regidas por Miguel Campos Neto. Uma novidade deste ano é que os espetáculos farão itinerância pelo interior do Pará num caminhão-palco. 

 Festival Amazonas de Ópera (AM) 
 O encerramento do festival, em maio, será uma homenagem ao compositor Claudio Santoro, nascido em Manaus há cem anos e morto há 30 anos. A sua ópera "Alma", que ganhou estreia mundial na segunda edição do festival amazonense, em 1998, terá uma nova montagem, incluindo trechos inéditos cedidos pelo seu filho, Alessandro Santoro. A regência será do maestro Marcelo de Jesus e a direção cênica, de Juliana Santos. Nos papéis principais, Denise de Freitas, Juremir Vieira e Homero Velho. A ópera é baseada em livro homônimo de Oswald de Andrade, sobre o submundo da prostituição numa São Paulo do início do século XX. 

Teatro Municipal do Rio (RJ) 
 Para celebrar os 110 anos do teatro, foi escolhida a ópera "Fausto", de Gounod, que estreia no dia 14 de julho, com entrada franca. O elenco traz o badalado tenor Atalla Ayan, a soprano Gabriella Pace, o barítono Homero Velho e o baixo-barítono Homero Perez, ótimos nomes que costumam trabalhar com o diretor André Heller-Lopes, responsável pela montagem (a mesma que abriu o Festival Amazonas de Ópera do ano passado e terá o Chile como próximo destino). A estética reflete o período da composição (segunda metade do século XIX) e flerta com o universo do escritor Mikhail Bulgakov, que, como Goethe, também invocou o capeta na literatura. A regência é de Luiz Fernando Malheiro. 

Sala Cecília Meireles (RJ) 
O pianista inglês Paul Lewis é celebrado pelo seu Beethoven. Na década passada, ele ganhou fama internacional pela gravação de todas as sonatas para piano desse compositor (abiscoitando prêmios das revistas "Gramophone" e "Diapason" e da Royal Philharmonic Society). No dia 28 de abril, ele tocará com a Orquestra de Câmara do Festival Ilumina, que reúne talentos sul-americanos. No programa, obras de Bach, Ravel, Bartók, Boccherini e, por fim, o concerto para piano nº 27 de Mozart. Opa... e Beethoven? Talvez no bis, mas, de qualquer jeito, vale a pena conferir Lewis.

Orquestra Sinfônica Brasileira (RJ)
A OSB já deu início à temporada deste ano, que tem 69 concertos. O primeiro no Teatro Municipal do Rio será no dia 26 deste mês e terá um programa (infelizmente) raro e (felizmente) interessante. Nele, compositores homens não passarão. O concerto começa com valsas de Chiquinha Gonzaga, seguidas de sinfonias da austríaca Marianna Martines e da francesa Louise Farrenc e aberturas sinfônicas da britânica Ethel Smyth e da alemã Fanny Mendelssohn. A regência é do maestro... nada disso. É da maestrina Priscila Bomfim. 

 Palácio das Artes (MG)
A Fundação Clóvis Salgado abrirá a temporada de ópera deste ano do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com "O elixir do amor", de Donizetti, em 20 de abril. O elenco ainda não pode ser divulgado, mas na regência da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e do Coral Lírico de Minas Gerais estará o maestro Silvio Viegas. A direção cênica será do argentino Pablo Maritano. 

 Osesp (SP)
 Uma nona sinfonia de Beethoven como nunca se ouviu. A frase pode soar marketeira, mas se aplica verdadeiramente aos quatro concertos de despedida da regente titular Marin Alsop, em dezembro. O Carnegie Hall, em Nova York, propôs a nove orquestras (de cidades como Sydney, Joanesburgo e Viena) que reimaginassem a Nona para o século XXI de acordo com suas culturas. O projeto "Uma ode global à alegria" foi idealizado pela própria Marin e, no caso da Osesp, a sinfonia será abrasileirada de duas formas. O poema "Ode à alegria", cantado no último movimento, será traduzido para o português por Arthur Nestrovski, e, entre movimentos, serão inseridas duas obras de compositores locais: "Cabinda — Nós somos pretos", de Paulo Costa Lima, e um adágio para cordas de Clarice Assad.

 O GLOBO/Dell'Arte (RJ)
 Fãs de música antiga (isto é, do Barroco ao início do Romantismo) ganharão possivelmente o maior presente desta temporada. O conjunto English Baroque Soloists, sob comando do maestro John Eliot Gardiner, tocará no Teatro Municipal do Rio no dia 7 de novembro. Após a morte do austríaco Nikolaus Harnoncourt, o inglês Gardiner pode ser considerado o maior nome da corrente de "performances historicamente informadas", ou seja, a interpretação de música antiga com instrumentos de época e com um jeito de tocar diferente do consagrado no alto Romantismo do século XIX. A orquestra de câmara, fundada em 1978, e o Monteverdi Choir, de 1964, apresentarão uma missa de Monteverdi, o "Stabat mater" de Scarlatti, duas canções de Purcell e o oratório "Jephté", de Carissimi. 

 Sociedade de Cultura Artística (SP) 
 A Orquestra Sinfônica de Montreal — que já teve grandes regentes, como Igor Markevitch, Zubin Mehta e Charles Dutoit — é dirigida pelo (bom) maestro americano Kent Nagano desde 2006. É um conjunto conhecido por se sair bem tanto ao acompanhar solistas (há gravações incríveis com a pianista Martha Argerich, ex-mulher de Dutoit, aliás) quanto por conta própria. E ela fará as duas coisas, em São Paulo (dias 1 e 2 de outubro) e no Rio (3 de outubro, trazida pela Dell'Arte). O programa tem o concerto para violino de Brahms, com a alemã Veronika Eberle e seu Stradivarius, e o "Concerto para orquestra", de Bartók, que não tem solista, mas foi batizado de concerto, e não sinfonia, porque os naipes da orquestra são tratados como solistas, com várias passagens virtuosísticas. É um teste para qualquer orquestra, e uma alegria para o público. 

 Filarmônica de Minas Gerais (MG) 
 Aos 70 anos, o israelense Pinchas Zukerman é uma mas maiores autoridades do violino e da viola. Sobre as suas gravações do único concerto de Beethoven para violino, o site de críticas ClassicsToday disse que "ele mantém um som doce, porém confiante, ao longo do concerto, e toca com uma elegância e uma autoridade que cumprem as pretensões elevadas da obra", enquanto a "Gramophone" ressaltou que a "pureza e o refinamento" do seu som transmitem uma "intensidade extra". Em agosto, ele será solista e regente do concerto de Beethoven, além de comandar a 8ª sinfonia e "Bosques silenciosos", ambas de Dvorak, a última com a violoncelista Amanda Forsyth.

Teatro São Pedro (SP)
O teatro dá sequência ao ciclo de óperas do grande compositor tcheco Leos Janacek, sob direção de André Heller-Lopes. No ano passado, foi apresentada "Jenufa". Este ano, em junho, é a vez de "O caso Makropulos", que Heller diz nunca ter sido encenada no Brasil (embora tenha sido tocada em forma de concerto). A regência será de Ira Levin. A soprano Eliane Coelho vai interpretar a personagem principal, a cantora Emilia, que toma um elixir da vida eterna e, com mais de 300 anos, se pergunta pelo que ainda vale a pena viver. Dona de uma longa carreira, a cantora Eliane parece a antítese disso: ativa nos palcos, ela vive em busca de novas experiências... como encarnar Emilia pela primeira vez. 

Orquestra Petrobras Sinfônica (RJ) 
A temporada está cheia de coisas interessantes, como a estreia de uma peça para trombone e orquestra de Marisa Rezende (2 de agosto), o concerto para piano nº 5 de Beethoven, com Nelson Freire (16 de novembro), e o concerto para violoncelo de Marlos Nobre, com Antonio Meneses (20 de setembro). Vale prestar atenção na nona sinfonia de Mahler (17 de maio), não só por ser uma obra exuberante e colorida, que vai do retumbante ao delicado, evocando as mais variadas emoções entre esses extremos dinâmicos, mas por ser cara ao maestro Isaac Karabtchevsky, que a regerá. 

Teatro Municipal de São Paulo (SP) 
Encenada por Jorge Takla, a opera "Rigoletto", de Verdi, estreia no Teatro Colón, em Buenos Aires, no dia 12 deste mês. Talvez valha a pena procurar uma crítica no jornal "Clarín" nos dias seguintes, para se ter uma ideia do que será visto no Municipal de São Paulo a partir de 20 julho. A montagem é uma parceria entre os dois teatros. Takla, para quem não lembra, foi o diretor de "La traviata", também de Verdi, no Municipal de São Paulo no ano passado. A regência do "Rigoletto" será de Roberto Minczuk, que ganhará uma homenagem do teatro pelos seus 25 anos de carreira neste dia 15, num concerto que tem "Carmina Burana", de Carl Orff, e o "Magnificat" de Bach.

 fonte: https://oglobo.globo.com

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